05/11/2008

ESCAVAÇÕES CONFIRMAM O REINADO DE SALOMÃO











































A velha questão para determinar o que é facto e o que é lenda nos textos bíblicos acaba de passar por mais uma reviravolta - e quem saiu a ganhar foi o glorioso reino de Salomão, filho de David, que teria governou os israelitas há 3.000 anos. Escavações na Jordânia sugerem que a extracção de cobre em escala industrial no antigo reino de Edom – região que, segundo a Bíblia, teria sido vassala dos reis de Israel – coincide, com o auge do governo do filho de David. Por outras palavras: as célebres "minas do rei Salomão" podem ter existido do outro lado do rio Jordão.A pesquisa, coordenada pelo arqueólogo Thomas E. Levy, da Universidade da Califórnia em San Diego, está na prestigiada Revista científica americana PNAS, e confrontam de forma coerente os que duvidam da existência de uma monarquia poderosa em Jerusalém durante o século 10 a.C. Segundo esses pesquisadores, como Israel Finkelstein [arqueólogo ateu, figura sempre presente nas páginas da Superinteressante e da Galileu], da Universidade de Tel Aviv, tanto a região de Jerusalém como a área de Edom, onde as minas foram encontradas, eram habitadas por aldeões e pastores nómadas nessa época. O surgimento de reinos politicamente bem organizados e capazes de empreendimentos de larga escala só teria sido possível 200 anos mais tarde.Levy discorda. "O que nós mostramos de forma definitiva é a produção de metal em larga escala e a presença de sociedades complexas, que podemos chamar de reino ou Estado arcaico, nos séculos 10 a.C. e 9 a.C. em Edom. Trabalhos anteriores afirmavam que o que a Bíblia dizia a este respeito era um mito. Os nossos dados mostram definitivamente que a história de Edom no começo da Idade do Ferro precisa ser investigada usando métodos científicos", declarou o arqueólogo ao G1. A região escavada por Levy e os seus colegas na Jordânia é uma suspeita antiga de ter abrigado as famosas minas salomónicas. Nos anos 1940, o arqueólogo americano Nelson Glueck já defendia esta ideia. No entanto, foi só com as escavações em larga escala no sítio de Khirbat en-Nahas (em árabe, "as ruínas de cobre"), ao sul do Mar Morto, que esta actividade ficou clarificada. Estima-se que, só em detritos da extracção do minério, existam no local entre 50 mil e 60 mil toneladas de detritos.
Numa escavação iniciada em 2006, Levy e os seus colegas conseguiram descer cerca de 6 m e montaram um quadro em alta resolução da história de Khirbat en-Nahas. A ocupação começa com uma estrutura rectangular de pedra, com protuberâncias ou "chifres". "Pode ter sido um altar", conta o arqueólogo – esses "chifres" eram usados como plataforma para besuntar o sangue dos animais sacrificados na antiga Palestina. Acima dessa estrutura, pelo menos duas grandes fases de extracção de cobre estão documentadas, com paredes de pedra que serviam como instalação industrial. Uma das formas de datar a actividade da extracção do minério é a presença de artefactos egípcios – um escaravelho e um colar – que aparentemente datam da época dos faraós Siamun e Shesonq (chamado de Sisac na Bíblia) – o século 10 a.C. Mas os pesquisadores também usaram o método do carbono 14 para estimar directamente a idade de restos de madeira usados para derreter o minério e extrair o cobre. Qual foi a conclusão? O mais provável é que a actividade industrial na área tenha começado em 950 a.C., data equivalente ao auge do reinado de Salomão, e terminado por volta do ano 840 a.C. E não é só isso: escavações numa fortaleza próxima também sugerem uma construção na era salomónica, durante o século 10 a.C. Segundo o relato bíblico, Salomão usou vastas quantidades de bronze (cuja matéria-prima, juntamente com a do estanho, era o cobre) na construção do templo de Jerusalém. Também teria continuado o domínio estabelecido por seu pai David sobre Edom e financiado uma frota de navios mercantes que saíam do litoral edomita em busca de produtos de luxo. Levy diz que os dados obtidos em Khirbat en-Nahas são compatíveis com o quadro do Antigo Testamento, mas mostra cautela. "Se as actividades lá podem ser atribuídas ao controle da produção de metal pela Monarquia Unida israelita, pelos edomitas ou por uma combinação de ambos, ou até por um outro grupo, é algo que a nossa equipa na Jordânia ainda está a investigar", realça ele. A pedido do G1, o arqueólogo Israel Finkelstein comentou o estudo na PNAS e fez duras críticas [o que se podia esperar dele?]. Para começar, Finkelstein não reconhece a região de Khirbat en-Nahas como parte do antigo reino de Edom, porque o sítio fica nas terras baixas jordanas, e não no planalto do além-Jordão."Na época em que Nahas está activa, não há um único sítio arqueológico no planalto de Edom, que só passa a ser ocupado nos séculos 8 a.C. e 7 a.C.", diz o pesquisador israelita. "Os trabalhos de minério em Nahas não tem a ver com o povoamento de Edom, mas com o do vale de Bersabéia [parte do reino israelita de Judá], que fica a oeste, ao longo das estradas pelas quais o cobre era transportado até o Mediterrâneo", afirma.Finkelstein também critica o facto de Levy e os seus pares terem usado os detritos de minério como base para a sua estratigrafia, ou seja, as camadas que ajudam a datar o sítio arqueológico, porque eles formariam estratos naturalmente "confusos" de terra. E afirma que a fortaleza estudada pelos pesquisadores também é posterior ao século 10 a.C."Aceitar literalmente a descrição bíblica do rei Salomão equivale a ignorar dois séculos de pesquisa bíblica. Embora possa existir algum fundo histórico nesse material, grande parte dele reflecte a ideologia e a teologia da época em que saiu da tradição oral e foi escrito, por volta dos séculos 8 a.C. e 7 a.C. Os dados de Nahas são importantes, mas não vejo ligação entre eles e o material bíblico sobre Salomão", arremata Finkelstein. [Não vê ou não quer ver?]Levy preferiu não responder directamente às críticas do israelita, embora um artigo anterior da sua lavra aponte que, ao contrário do que diz Finkelstein, há ligação cultural entre os habitantes das terras baixas e os edomitas do planalto. "Suponho que, toda a vez que há uma interface entre textos sagrados e dados arqueológicos, é natural que o debate se torne emocional", afirma.

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