05/10/2010

DANIEL EM BABILÓNIA

Ciro o Grande
Vários elementos que, no passado, constituíram problemas quase insolúveis relativos à historicidade deste do livro de Daniel, tiveram uma explicação. Esses relatos narrativos e proféticos podem, agora, ser tomados a sério.
Nas suas descrições proféticas, Daniel utiliza imagens de animais bastante estranhos, realmente difíceis de entender para o leitor moderno. As pessoas que viviam na época da supremacia babilónica não tinham essas dificuldades de compreensão. Hoje, a arqueologia ajuda-nos a levantar alguns véus.
A célebre porta de Istar, encontrada em Babilónia, estava coberta de relevos que representavam animais estranhos e outras feras terríveis.
O objectivo era impressionar, quem sabe intimidar, o visitante desta grande cidade. a grandeza de Babilónia era visualizada, simbolicamente, por estas representações. São estes mesmos símbolos que encontramos nos sonhos e visões de Daniel. Nada de extraordinário, portanto, para um leitor familiarizado com a cultura babilónica. Na Antiguidade, as forças cósmicas eram muitas vezes representadas sob a forma de animais desse tipo.
Reconstrução do palácio de Nabucodonosor.
As paredes com baixos-relevos de
animais selvagens
O conhecimento do meio histórico e geográfico no qual Daniel teve as suas visões ajuda-nos a compreender não só as cenas que evocam animais, mas também as que mencionam “os reis do Norte e do Sul”. Na realidade, ninguém se aproximou de Babilónia vindo de Este ou de Oeste. Os desertos e cumes montanhosos formavam uma barreira intransponível para os exércitos inimigos. Esses exércitos usavam sempre os vales a Sul e a Norte.
Tendo em conta a dimensão do livro de Daniel, podemos afirmar sem problema que dispomos de mais provas e de indícios arqueológicos relativos a ele do que a qualquer outro livro da Bíblia. E, no entanto, muitos duvidam da sua veracidade. Embora este livro apresente muito poucas semelhanças com outros livros da Bíblia (exceptuando o Apocalipse), é preciso saber que este tipo de literatura extra-bíblica foi encontrado em abundância. Dispomos de numerosos manuscritos medievais que contêm textos que datam da Antiguidade. Para o leitor moderno, esta literatura cheia de representações gráficas pode parecer estranha, mas não era assim para o leitor da época.
Cilindro no qual figura o decreto promulgado
por Ciro, autorizava os judeus a voltarem a
Jerusalém
Ciro
Voltaremos a mencionar as conquistas de Babilónia por Ciro, o Grande. Uma das razões pelas quais os babilónios aceitaram facilmente este monarca foi porque este adorava, entre outros, o seu deus Marduque. Sabemos que Ciro tolerava os deuses nacionais dos povos conquistados. Assim, as palavras de 2ª Crónicas 36:22,23, que afirmam que Ciro respeitava o Deus de Judá, bem como as profecias de Jeremias, estão confirmadas.
Quando Ciro promulgou o decreto que permitia aos judeus voltarem para Judá, a fim de reconstruírem a cidade de Jerusalém e o templo do seu Deus, muito poucos decidiram voltar. Durante os setenta anos passados em Babilónia, os deportados tinham construído uma vida desafogada e tinha esquecido a sua pátria. O enorme trabalho que os esperava para reconstruir Jerusalém e torná-la habitável assustava-os. Os judeus tinham acabado por constituir um grupo importante e próspero em Babilónia. Vários textos antigos mencionam um grupo importante de comerciantes judeus influentes. Encontramos a confirmação disso no livro de Ester. Não podemos avaliar a influência exercida por Ester na corte real, mas talvez fosse maior do que se poderia imaginar.
Uma parte do tesouro de Ciro.
Terão algumas destas
peças sido usadas
por Ester?
Também podemos perguntar-nos qual poderia ter sido a influência dos judeus monoteístas sobre o aparecimento da nova religião persa, conhecida sob o nome de zoroastrismo. Esta religião só conhecia duas divindades: a do bem e a do mal. Embora este dualismo não seja um verdadeiro monoteísmo, devemos salientar que esta crença de origem bastante vaga apresenta paralelos interessantes com a doutrina cristã que opõe Deus a Satanás.

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