18/10/2010

A VIDA DENTRO DE UMA CIDADE BÍBLICA

Berseba: poço à entrada
da cidade.
Por vezes, a arqueologia bíblica esclarece certos relatos bíblicos de maneira bastante espectacular. Mas também é importante descobrir o modo de vida das pessoas nos tempos bíblicos. Berseba é, provavelmente, a cidade bíblica mais bem estudada e mais posta a descoberto. Ela dá uma ideia bastante precisa da vida da época.
Imaginem a cena: antigamente, um viajante aproximava-se de Berseba através dos campos de cevada e dos prados onde pastava as ovelhas e as cabras no Inverno. As pedras utilizadas para as fortificações conferiram à cidade uma forte cor ocre. Os telhados achados de certas casas encostadas às muralhas estavam, provavelmente, cobertos de palha. As crianças brincavam ali. Ao cair da noite, famílias inteiras encontravam-se nos telhados, à procura da frescura da brisa…
Selo de Baruque,
filho de Nerias.
A entrada da cidade, com os seus três portões maciços, era um lugar cheio de vida. Era ali que se organizava a vida social da cidade. os viajantes contavam as notícias de outras cidades; os camponeses encontravam-se para partilhar as suas experiências e as suas preocupações. Era também aí que os campos eram vendidos ou comprados e os casamentos combinados. Era ainda aí que os governadores da cidade se sentavam e julgavam. Era o verdadeiro centro da cidade urbana. Um pouco mais para o interior da cidade, chegava-se a um outro lugar importante: a praça do mercado. Era ali que os viajantes esperavam que alguém lhes oferecesse hospitalidade. Uma ou duas vezes por semana, instalava-se ali um mercado. Havia caravanas que paravam ali para descarregar as mercadorias trazidas de outras cidades. Em seguida, essas mercadorias eram transportadas para os armazéns e os entrepostos situados à direita da porta. Eram carregadas outras mercadorias, destinadas à exportação. Os entrepostos serviam de lugares de armazenagem, mas também de lojas onde a população local podia comprar as suas provisões.
À esquerda da porta, encontravam-se um pequeno santuário onde os visitantes e os trabalhadores que se encontravam nas proximidades podiam retirar-se para meditar. Da praça partia um caminho que contornava a cidade interior, paralelamente às muralhas. Esse caminho dava acesso às casas construídas encostadas à parede da fortaleza, e também aos bairros residenciais no centro da cidade.

Selo de Sema,
servo de Jeroboão.
 Ao entrar numa casa, podíamos constatar que era mantido o estilo típico de construção israelita: três ou quatro divisões e pilares entre o pátio interior e os quartos. A cozinha e as outras actividades domésticas diárias faziam-se no pátio interior. O gado, principalmente ovelhas e cabras, ocupava uma das divisões. As outras serviam de armazém e, sobretudo, de dormitório, nas famílias mais pequenas ou pobres. Os ricos podiam dar-se ao luxo de construir um primeiro andar, acessível através de uma escada em pedra.
Havia pouca intimidade. Por todo o lado, havia crianças que corriam e brincavam sendo, muitas vezes, os seus gritos e os seus risos abafados pelo barulho dos animais. Era muito frequente ver várias famílias aparentadas habitarem sob o mesmo tecto. As águas usadas escorriam em direcção ao centro da rua, por meio de pequenos canis. Condutas mais importantes levavam-nas até à porta, e daí para o vale. Devia pairar no ambiente um odor nauseabundo de detritos, de podridão e de excrementos, sem falar do fumo das numerosas fogueiras sobre as quais eram preparadas as refeições. Era provável que o esterco composto de excrementos de animais e de humanos, e os materiais orgânicos apodrecidos, fosse posto num monte para servir de adubo para as terras.
Selo de Jazanias
(2ª Reis 25:23)
Não há dúvida de que o homem moderno se sentiria muito mal numa cidade destas. Mas o campo não era realmente uma alternativa válida, já que os ladrões representavam uma ameaça demasiado real. A vida era assim, e as pessoas habitavam-se a ela. É muitas vezes aconselhado que situemos as personagens bíblicas no seu contexto. A arqueologia dá-nos uma ajuda nesse aspecto.
Vestígios de personagens bíblicas.Dispomos de inscrições que mencionam personagens da Bíblia. Na Antiguidade, o selo pessoal era o único meio de identificação. Tratava-se de uma pedra onde estava gravado o nome. Assim, foi descoberto um selo com a menção “Baruque, filho de Nerias, o escriba”. Tendo em conta a data da inscrição – meados do século VII a.C. – é quase certo que tenha pertencido ao amigo do profeta Jeremias. Os textos de Jeremias 32:12,16 e 36:4 fazem menção de um escriba chamado Baruque, filho de Nerias. Um outro selo encontrado pertencia a Seraías, irmão de Baruque, de quem se fala em Jeremias 51:59. Três outros selos mencionam pessoas de linhagem real.
Duas delas, Manasses e Joiaquim, depois tornaram-se reis, enquanto que a terceira, Jerameel, é citada em Jeremias 36:26, como sendo um príncipe. Essas personagens bíblicas existiram, portanto, realmente.
Conclusão:Todos estes elementos mostram a importância da arqueologia bíblica ao dar uma nova dimensão à nossa compreensão da via nos tempos bíblicos e ao nosso respeito pela Bíblia.

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