24/11/2010

AS CONSTRUÇÕES DE SALOMÃO

Mesquita de Omar, com um exemplo de
reconstrução do templo de
Salomão.
Sabemos muito pouco sobre as realizações arquitectónicas de David. Preocupado com a expansão do seu reino, restava-lhe, certamente, pouco tempo para construir. As grandes construções só são possíveis em tempo de paz. Essa paz foi parte da herança deixada por David ao seu filho Salomão, que recolheu os frutos dos esforços do seu pai. Assim, Salomão pôde consagrar uma parte importante do seu tempo a cultivar a sabedoria, a arte e a estética. O modo como ele evidenciou a grandeza da sua monarquia oriental foi imortalizada num provérbio.
Há indícios bíblicos e arqueológicos que nos indicam que, para tornar possível esse fausto, o povo devia ser pesadamente tributado. Isso pode ver-se claramente em 2ª Reis 12, que conta o acesso ao trono de Roboão, o filho de Salomão. As tribos do Norte do país recusaram reconhecer Roboão, uma vez que ele tinha a intenção de lhes impor um jugo tão pesado como o do seu pai Salomão. Aparentemente, as exigências de Salomão suscitavam um descontentamento cada vez maior.
Os arqueólogos que estudam o período de unificação do Reino servem-se de dois versículos bíblicos como ponto de partida das suas investigações. Em 1ª Reis 9:15 podemos ler: “E esta é a causa do tributo que impôs o rei Salomão, para edificar a Casa do Senhor, e a sua casa, e Milo, e o muro de Jerusalém, como também a Hazor, e a Megido, e a Geze.” 1ª Reis 9:19 acrescenta: “…e todas as cidades das munições que Salomão tinha, e as cidades dos carros, e as cidades dos cavaleiros, e o que o desejo de Salomão quis edificar em Jerusalém, e no Líbano, e em toda a terra do seu domínio.” O que Ramsés II foi para o Egipto, foi-o Salomão para Israel. A Bíblia afirma que Salomão tomou a iniciativa de numerosas construções. Esse facto é confirmado pelas descobertas arqueológicas, como veremos no decorrer deste estudo.
1. O Templo de Salomão.
As numerosas escavações feitas em Jerusalém não permitiram descobrir os vestígios do templo de Salomão. Geralmente, presume-se que esse templo foi construído sobre o terreno rochoso mais elevado, onde se situa actualmente a Mesquita de Omar. O templo de Salomão foi destruído em 586 a. C., na altura da tomada de Jerusalém pelos babilónios. Os vestígios foram, provavelmente, totalmente eliminado pelos construtores posteriores, como Zorobabel e Herodes. Alguns arqueólogos chamaram a atenção para uma fissura na alvenaria perto da extremidade Sul do muro da esplanada do templo e sugerem que essas pedras podem datar do tempo de Salomão. Mas não dispomos de nenhuma prova que confirme essa hipótese.
A partir de 1ª Reis 6 e 7, onde podemos ler uma descrição pormenorizada do templo, numerosos pesquisadores tentaram realizar uma maqueta. Hoje, é possível termos uma ideia relativamente fiável do templo.
Jerusalém no tempo
de Salomão.
2. O palácio de Salomão.
Tal como aconteceu com o templo, nada estou do grande palácio que Salomão mandou construir em madeira de cedro. As informações fornecidas por 1ª Reis 7 permitem-nos supor que o palácio teria sido construído ao lado do templo, e que ainda era maior do que este. A construção do palácio demorou treze anos, enquanto que, para o templo bastaram sete anos. Tudo leva a crer que o templo fazia parte de todo o complexo ligado ao palácio, como era o caso em Tell Tayinat, na Síria. De todos os templos encontrados, é o que mais se assemelha ao templo de Salomão.
3. O Milo (2ª Sam. 5:9; 1ª Reis 9:15,24)
Em certas versões bíblicas, esta palavra não foi traduzida, porque os tradutores não chegaram a acordado quanto ao seu significado. É derivada de uma palavra que significa “encher”. “Milo” designaria, portanto, alguma coisa que se pode encher de um modo ou de outro. Depois de ter trazido à luz uma pequena parte da cidade antiga de Jerusalém nos anos sessenta, Kathleen Kenyon avançou a hipótese de que Milo fosse uma série de terraços formados por rochas, realizados ao longo das encostas da cidade velha. Esses terraços estavam “cheios” de uma grande quantidade de pedras, necessárias para o seu nivelamento. As escavações realizadas mais tarde pela Universidade Hebraica permitiram concluir que esses terraços tinham sido construídos depois da época de Salomão. No entanto, sob os terraços, foi descoberta uma barreira em pedra que data do tempo de Salomão e que servia para facilitar a defesa da cidade. é muito provável que esta barreira, cheia de pedras, fosse de facto, o Milo de Salomão. 
Base em bronze para uma bacia
destinada às purificações
rituais.
4. A metalurgia.
1ª Reis 7 descrevem vários objectos destinados ao templo e fabricados em cobre e noutros metais. O mais notável desses objectos foi, certamente, a bacia de latão fabricada numa só peça. Com os seus cinto metros de diâmetro, este exemplo de habilidade metalúrgica suscitaria ainda hoje a admiração. Um estudo recente das dimensões de outras especificidades desta bacia, descritas em 1ª Reis 7, pôs em evidência uma notável exactidão matemática. Era realmente necessária uma tecnologia avançada para conseguir esta proeza!
Em várias zonas do recinto do templo havia outras bacias mais pequenas, colocadas sobre bases. Uma delas, em bronze, datando desta época, foi encontrada em Tel es-Saidiyeh, no vale do Jordão. A base, ornamentada com romãs, é semelhante às das bacias descritas em 1ª Reis 7:38.
Muito antes deste tempo, tinham sido exploradas minas de metais e, principalmente, de cobre na península do Sinai. Os egípcios primeiro, depois os israelitas, utilizaram estas mins de cobre situadas perto de Timna, a alguns quilómetros a Norte do golfo de Acaba. Os vestígios mostram que o seu apogeu se deu no tempo de Salomão. A maior parte dos arqueólogos afirmam que os objectos citados em 1ª Reis 7 foram realizados a partir do cobre extraído restas minas. A fundição do minério fazia-se no próprio lugar, sendo depois o cobre transportado, para com ele se forjarem os objectos necessários ao templo.

Ostracon datando de
1000-800 a.C, com a
inscrição "Ouro de Ofir,
para Bete-Horom".
5. O comércio.
Os minérios foram, provavelmente, transportados por caravanas que pertenciam às autoridades. A Bíblia menciona o comércio lucrativo de Salomão com os povos vizinhos (1ª Reis 9:26-28). Os arqueólogos descobriram um número importante de cidades construídas no tempo de Salomão, que tinham muitos edifícios públicos, entre os quais havia vários claramente destinados à conservação de estoques. Tudo parece indicar que Salomão mandou construir essas cidades-armazém em lugares estratégicos em todo o país, a fim de permitir um transporte rápido das mercadorias. Numerosos ostracons (pedaços de objectos de barro contendo partes de textos) mais recentes foram identificados como sendo uma espécie de recibos para mercadorias transportadas de um depósito para outro. Um desses textos fala mesmo de Ouro de Ofir, como em 1 ª Reis 9:28.

Cidade de Megido

Maqueta da cidade de Megido,
de acordo com as descobertas feitas no lugar.
O comércio com o Egipto necessitava de longas viagens através do deserto do Sinai, onde as tribos nómadas agressivas espreitavam e pilhavam as caravanas. No reinado de Salomão, o Neguev, a região desértica ao Sul da Palestina, era protegido por uma rede de fortificações situadas ao longo dos itinerários seguidos pelas caravanas, a fim de preservar os interesses comerciais de Salomão e defender a fronteira Sul de Israel. Era nestas fortificações que os transportadores podiam passar a noite. Os soldados que aí estavam colocados tinham por missão proteger as caravanas contra os bandos de ladrões itinerantes. Assim, Salomão conseguiu, ao mesmo tempo, preservar os seus investimentos comerciais e aumentar a fama do seu reino.
6. Hazor, Megido e Gezer.Os dados arqueológicos mais espectaculares, relativos ao tempo de Salomão, vêm-nos das três cidades mencionadas em 1ª Reis 9:15: Hazor, Megido e Gezer. A história da descoberta arqueológica destas três cidades estende-se por um período de sessenta anos aproximadamente, a partir das primeiras escavações perto de Gezer, por volta de 1910, até às mais recentes, perto de Megido.
Já mencionámos as escavações feitas por R. A. S. Macalister perto de Gezer. A sua técnica era a habitual naquela época, mas o número limitado de supervisores teve como consequência que nem todas as descobertas foram registadas de modo satisfatório. No relatório final da sua campanha arqueológica, ele apenas pôde apresentar algumas provas a respeito da cidade de Salomão. Se a sua hipótese se tivesse revelado exacta, isso significaria que a afirmação bíblica de 1ª Reis 9:15, segundo a qual Salomão tinha mandado construir Gezer, estava errada.
Reconstrução de uma porta
em Hazor.
Quando se fizeram as escavações em Megido, nos anos trinta, foram descobertos muitos elementos relativos à época de Salomão. Esta cidade possuía muralhas, que incluíam várias casamatas (pequenas divisões fortificas, situadas entre as duas paredes das muralhas, que reforçavam as defesas). A porta da cidade, que fazia parte das muralhas, é considerada única na história da arqueologia. Geralmente, a porta era o elo fraco na fortificação de uma cidade. Para reduzir a sua vulnerabilidade, construía-se uma torre de cada lado da porta, assim como vários pequenos portões de acesso ao interior da mesma. A porta que Salomão mandou construir em Megido era ladeada por duas torres de cada lado da porta, assim como vários pequenos portões de acesso ao interior da mesma. A porta que Salomão mandou construir em Megido era ladeada por duas torres e munida de quatro portões internos (em vez dos dois ou três habituais). Tinha sido igualmente construída, de um lado e do outro de cada pequena porta interior, uma sala para os guardas. Um inimigo potencial teria, portanto, que atravessar quatro portões defendidos, cada um deles, por vários guardas.
Escavações em Hazor permitiram trazer
à luz uma porta datada da época de
Salomão semelhante à de Megido.
A parte Sul dos vestígios encontrados revela um grande edifício, constituído por um grande pátio, com varas salas longas e estreitas. Tratava-se das estrebarias da valaria de Salomão, mencionadas em 1ª Reis 9:19. ao lado das estrebarias encontrava-se um palácio imponente que servia, provavelmente, de residência a Salomão quando este estava fora de Jerusalém.
Um bom número de outros edifícios importantes, entre os quais um segundo complexo de estrebarias, a Norte da cidade, também datam do tempo de Salomão. Contrariamente às escavações realizadas perto de Gezer, as descobertas feitas em Megido confirmam fortemente o relato bíblico do reino de Salomão.
Nos anos cinquenta, foram deitas escavações em Hazor, a Norte do lago da Galileia, dirigidas por Yigael Yadin. A camada que datava da época de Salomão revelou uma porta que, pelas suas dimensões, pela sua forma e pelo seu estilo, era praticamente idêntica à encontrada em Megido. Isto sugere, não só que foram construídas na mesma época, mas também que foram obra do mesmo arquitecto. Talvez elas sejam o testemunho de um plano arquitectónico ambicioso de Salomão para as suas cidades reais (ver 1ª Reis 9:15).
Esta questão intrigante tornou-se ainda mais importante quando Yadin examinou de perto as suas descobertas. As semelhanças entre as portas de Hazor e de Megido eram demasiado evidentes para serem ignoradas. Então, interrogou-se sobre a possibilidade de, nas escavações realizadas antes em Gezer – de modo bastante negligente – se terem enganado na identificação de uma porta do tempo de Salomão. As semelhanças notáveis entre Hazor e Megido pareciam confirmar realmente o relato de 1ª Reis 9:15. Nesse caso, poderia presumir-se que Gezer estava munida de uma porta semelhante…
Em Megido e Gezer foram descobertas
construções semelhantes.
Ao estudar os relatórios de Gezer, Yadin notou que se fazia menção de uma construção perto das muralhas, identificada por Macalister como uma fortaleza do tempo dos Macabeus, ou seja, por volta de 150 anos a.C..Ficou impressionado por constatar que uma parte deste edifício tinha exactamente a mesma forma que metade das portas de Megido e de Hazor. Além disso, os desenhos indicavam mais ou menos as mesmas dimensões. Nesse preciso momento, uma equipa americana estava ocupada a fazer escavações em Gezer. A pedido de Yadin, essa equipa aceitou deitar mão outra vez à “fortaleza macabeia”. Foi assim que a outra metade da porta foi descoberta… e preencheu todas as expectativas. Chegou-se à conclusão de que esta porta datava, realmente, do tempo de Salomão. O relato de 1ª Reis 9:15 era, portanto, exacto. As três cidades, Hazor, Megido e Gezer, tinham portas que datavam da época de Salomão, idênticas quanto à forma, à dimensão e ao processo de construção. A hipótese de um plano global de construção sugerido em 1ª Reis 9:15 confirmou-se.
Mas a história não acaba aqui. Em consequência das escavações feitas perto da porta de Hazor, Yadin notou que o muro de Salomão era de um estilo diferente do de Megido. Em vez de uma muralha com reforços salientes e reentrantes, descobriu uma muralha com casamatas. Este tipo de muralha consiste em dois muros paralelos, relativamente estreitos, distantes um do outro mais ou menos 3 metros. De cinco em cinco ou de oito em oito metros, os dois muros são ligados por muretes de junção, formando assim salas isoladas, que podem ser usadas como depósito ou até como habitação. Em tempo de guerra, a muralha podia ser reforçada enchendo essas divisões com escombros.
Vista da porta de Salomão,
em Megido.
Ao analisar a semelhança entre as portas das três cidades, Yadin pensou que o mesmo deveria acontecer com as muralhas. Ter-se-iam enganado os arqueólogos em Megido? Já tinham cometido outros erros… Onde é que devia ser procurada a muralha do tempo de Salomão em Gezer? Yadin estudou de novo os relatórios sobre Gezer e descobriu uma estrutura em casamatas que, segundo os pesquisadores americanos, estava ligada à porta de Salomão. Concluiu-se daí que tanto Hazor como Gezer tinham portas com um sistema de quatro portões internos bem como muralhas em casamata, enquanto que Megido tinha um outro tipo de muro, embora a porta fosse idêntica. Yadin estava cada vez mais convencido de que os arqueólogos tinham cometido erros a respeito de Megido. Depois de terminar os seus trabalhos em Hazor, começou novas escavações em Megido. Mandou limpar o muro com os reforços salientes e reentrantes, a fim de verificar se não haveria casamatas debaixo dos escombros. As suas escavações em Hazor tinham demonstrado que, na época do rei Acab, tinha sido construído um muro maciço com reforços sobre a muralha em casamatas. Teriam feito a mesma coisa em Megido? Com efeito, quando a limpeza terminou, apareceu um muro em casamatas, idêntico aos de Hazor e de Gezer. O estudo das cerâmica encontrada no lugar confirmou a hipótese de Yadin, esta muralha em casamatas datava da época de Salomão, enquanto que o muro maciço com reforços reentrantes e salientes tinha sido construído um século mais tarde, no reinado de Acab.
Assim terminava uma grande aventura arqueológica. A sugestão feita em 1ª Reis 9:15, segundo a qual as construções de Hazor, Megido e Gezer faziam parte de um imenso plano arquitectónico do rei Salomão, foi confirmada de modo notável. As evidências são tais que nenhum arqueólogo moderno duvida ainda da exactidão deste texto bíblico. Depois das escavações feitas em 1910, tudo parecia indicar o contrário, mas os trabalhas de Yadin provocaram uma reviravolta na situação.
Conclusão:
Grande número de pesquisadores confirma que os dados bíblicos relativos à unificação do reino são particularmente exactos. Não temos informações arqueológicas que contrariem esse relatos. Muito pelo contrário. Todas as descobertas vêm corroborar a exactidão das informações contidas neste capítulos da Bíblia.

Sem comentários:

Enviar um comentário