29/12/2010

A ÉPOCA DOS JUÍZES EM ISRAEL

Partilha dos paí no
tempo dos Juízes.
As Tribos Instalam-se: A conquista da Terra Prometida realizou-se em duas fases. Num primeiro tempo, foram dirigidos ataques breves, mas violentos, contra a zona centro de Canaã, depois contra o Sul e o Norte do país. Houve algumas batalhas, mas tanto a Bíblia como os dados arqueológicos dão a impressão de que muito poucas cidades foram destruídas durante esta fase.
Os invasores israelitas, claramente, não estavam decididos a expulsar definitivamente os cananeus nem a tomar as suas cidades. Limitaram-se a uma demonstração do seu poderio através de campanhas-relâmpago, depois das quais voltavam para o seu acampamento principal.
A segunda fase, que começou depois da atribuição, feita por Josué, de um território a cada tribo, constituiu a verdadeira tomada de posse do país. Esta fase durou cerca de 350 anos e corresponde ao período dos Juízes. Cada tribo tentou expulsar progressivamente os autóctones e apoderar-se das suas cidades. As proezas de Sansão ilustram as tentativas da tribo de Dã, mas esta sofreu uma derrota (Juízes 14:16; ver também Juízes 18, que conta que as tribos abandonaram o território que lhes tinha sido atribuído para migrarem para outra região).
Seguindo estes dados bíblicos, deveríamos encontrar os lugares de ocupação israelita mais antigos nas regiões onde viviam poucos cananeus. Estudos arqueológicos muito recentes confirmaram isso. A presença das colónias israelitas mais antigas foi encontrada nas regiões acidentadas, onde não existiam cidades cananeias. Estas últimas situavam-se, sobretudo, na planície.
Da Vida de Nómada para a vida Sedentária.
Escavações da primeira casa israelita.
A Bíblia descreve os patriarcas como sendo pastores que seguiam os seus rebanhos por todo o país de Canaã. Chegados ao Egipto, ao país de Gosen, os israelitas conservaram esse estilo de vida. Mesmo durante o período da escravatura, as mulheres e as crianças continuaram a ocupar-se do gado. Na altura do Êxodo, os escravos fugitivos levaram os seus rebanhos. Durante o seu deambular pelo deserto, que durou 40 anos, viveram como pastores nómadas, procurando continuamente novas pastagens para o seu gado.
Segundo a Bíblia, os israelitas eram pastores que não dominavam a agricultura e que não estavam habituados a viver em cidades. Mas a promessa de Deus deu-lhes a certeza de que iriam ocupar um dia as terras férteis de Canaã para aí cultivarem as suas próprias vinhas e os seus próprios pomares. Portanto, só podemos esperar encontrar vestígios de agricultura muito tempo depois do Êxodo. Eles precisaram, de facto, de um certo tempo para se familiarizarem com a agricultura e cultivarem as terras de modo lucrativo.
Também não devemos esquecer que os israelitas tiveram que se instalar em regiões arborizadas ainda não desbravadas. A Bíblia assinala a presença de muitos animais ferozes (Deuteronómio 7:22). Tudo isso implica que os israelitas tiveram que trabalhar a terra ao mesmo tempo que construíram muros de protecção contra as feras. Por isso, não é de estranhar que a instalação definitiva tenha sido um processo bastante lento. Embora a Bíblia não o afirme de modo explícito, pinta-nos o quadro de um grupo de pastores que evoluíram lentamente para um estilo de vida mais agrário.
A questão importante é sabermos se as descobertas arqueológicas confirmaram esta imagem. Os dados mais recentes vão, com efeito, nesse sentido. Segundo a cronologia bíblica, a conquista de Canaã começou por volta de 1400 a.C. Os primeiros vestígios do estabelecimento dos israelitas neste país datam de um pouco antes de 1200 a.C. Isso quer dizer que o processo de transição de uma vida nómada para uma vida sedentária se alargou a um período de cerca de dois séculos.
O relato bíblico vê-se confirmado pelas descobertas feitas no terreno. Estas dizem respeito, geralmente, a pequenos aglomerados (três ou quatro casas) com campos rodeados de muros, uma paisagem que corresponde ao que lemos na Bíblia. Em vários lugares foram encontrados utensílios agrícolas que data desta época, assim como silos para provisões, onde os produtos da colheita eram conservados.
Escavações importantes, forneceram
informações interessantes acerca
das fortificações das
cidades
Já foram descobertos várias destas colónias nas colinas perto de Jerusalém, outras se seguirão, provavelmente. A Norte de Jerusalém, os membros da tribo de Benjamin transformaram algumas casas numa aldeia com excesso de população. Ao estudar os objectos de cerâmica e outros encontrados no local, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os habitantes viviam na pobreza e que, em vários aspectos, eram menos avançados do que os autóctones da época. Por não terem uma longa história de sedentarismo, os israelitas não beneficiavam nem de prosperidade nem das tradições artísticas e culturais que caracterizam, geralmente, uma civilização desse tipo.
Em Ai, os arqueólogos puseram a descoberto um tipo de arquitectura muitas vezes considerado como sendo específico dos israelitas. Ainda que fosse conhecido de outros povos, este tipo de construção encontra-se, sobretudo, nas colónias israelitas. Cada casa era composta por quatro divisões rectangulares, três contíguas e uma quarta que acompanhava as outras em comprimento. A segunda divisão era, provavelmente, um pátio interior onde se desenrolavam as actividades diárias. Pelo menos uma das outras duas divisões estava separada desse pátio por uma filha de colunas ou pilares. Talvez se tratasse de um abrigo destinado aos animais domésticos. Os ricos construíam um segundo andar que cobria uma parte da casa. Certas famílias que não dispunham de meios suficientes tinham de se contentar com uma versão mais modesta de três divisões. Este tipo de casa é facilmente identificado pelos arqueólogos graças aos pilares. São típicas das primeiras colónias israelitas.
A água … uma problema a resolver.
Cerâmica israelita do
período 1500-1000
a.C.
Um segundo lugar, Radanna, situado a Leste de Ai, é muito parecido com esta cidade. Numa das casas, tinha sido cavado um buraco na rocha para conservar a água recolhida durante os meses chuvosos de Inverno. Essa água era extremamente útil durante a estação seca. No passado, as casas tinham sido sempre construídas perto das fontes de águas, de ribeiros ou rios. Mas, na Palestina, as rochas são bastante porosas e não conservam a água durante muito tempo. A descoberta destes reservatórios típicos das casas israelitas sugere que estes tinham aprendido a dominar uma nova técnica.
Nos tempos antigos, já se conhecia o reboco, mas só nas casas dos primeiros colonos israelitas no país de Canaã é que se encontrou o reboco utilizado para impermeabilizar estes reservatórios. Não sabemos ao certo se foram os israelitas que inventaram este processo, mas, em todo o caso, parecem ter sido eles os primeiros a utilizá-lo quando se instalaram nas colinas da Palestina. A partir de então, tornou-se possível construir casas praticamente em todas as colinas. Graças a esses reservatórios forrados de reboco, o abastecimento de água deixou de ser um problema, o que permitiu aos israelitas estabelecerem-se nos lugares onde os cananeus não tinham ousado instalar-se. É verdade que a água devia ter um sabor horrível depois de uma longa conservação. No entanto, este processo ainda hoje é usado em certas aldeias. A sede faz esquecer o sabor…
Casas típicas de quatro divisões,
em Berseba, na fronteira
no Neguev.
 Também foram encontradas casas de quatro divisões com reservatório de água em Izbet Sartah, a noroeste de Jerusalém, na parte ocidental das colinas. Mas, neste lugar, foi descoberto um outro elemento de grande importância: um ostracon (pedaço de cerâmica com uma inscrição) com o texto hebraico mais longo encontrado até esse momento. Infelizmente, não se trata de uma mensagem clara, mas, provavelmente, de tentativas desajeitadas de um aluno que queria escrever o alfabeto. No entanto, essa inscrição tem a sua importância: mostra-nos que, apesar da sua pobreza relativa e da sua pouca cultura, os israelitas aprendiam a ler e a escrever. Isso confirma o relato de Juízes 8:14, onde se pode ler que um menino israelita escreve informações dirigidas a Gideão.
O quarto lugar está localizado a sudoeste de Jerusalém, em Gilo. Ainda se podem ver ali os muros que rodeavam os campos. Em cada campo tinha sido construída uma casa. Cada família possuía, portanto, um campo próximo da casa, o que facilitava bastante a protecção do gado e o trabalho agrícola. O inconveniente era que essas ´quintinhas´ eram muito vulneráveis em face dos inimigos. Pouco tempo depois da chegada dos israelitas àquela região, os filisteus vieram atacá-los nas colinas. Isso provocou mudanças na concepção dos aglomerados habitacionais.
As primeiras aldeias.
A cerâmica e os objectos
metálicos.
Uma das primeiras aldeias israelitas estava situada no Neguev, perto de Berseba. Escavações muito recentes permitiram descobrir aí uma espécie de cidade israelita. Nesse local, em Tel Masos mais exactamente, foi encontrado um grande número de casas de quatro divisões tipicamente israelitas (com variantes), que formavam um aglomerado cujas dimensões são sãs de uma cidade da Antiguidade. Pormenor notável: esta ´cidade´ não era protegida por uma muralha. Nesta região, foram encontradas muito poucas casas desta época, de outros estilos. Só uma ou duas casas parecem ter sido construídas no estilo egípcio desse período e pelo menos um dos outros edifícios parece ter tido uma função pública.
Um estudo intensivo deste local demonstrou que a repartição das divisões nas casas israelitas mais antigas era muito semelhante à das tendas dos beduínos em que os israelitas tinham vivido durante séculos. Tudo leva a crer que a casa típica de quatro divisões deriva dessas tendas. Estamos, portanto, perante uma confirmação arquitectural da imagem dada pela Bíblia, a saber, a evolução lenta e progressiva de uma sociedade nómada para uma sociedade sedentária e agrária.
A cerâmica e os objectos metálicos que os israelitas fabricaram localmente eram idênticos aos utilizados pelos cananeus desta região. O povo de Israel assimilou, portanto, muito rapidamente alguns elementos da cultura cananeia e copiou os utensílios. Os antropólogos afirmam que uma evolução cultural desse tipo abarca várias gerações, e pode demorar mesmo dois séculos. Tel Masos confirma não só a ideia bíblica de um processo progressivo de instalação, mas também a cronologia bíblica, que situa a primeira fase da conquista cerca de duzentos anos antes das primeiras colónias israelitas.

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